Marcelo Rezende
Pensar as possibilidades da arquitetura para a arte (ou da arte para a arquitetura) tem sido uma atitude constante nas obras e ações de Lucia Koch. Arquitetura, aqui, significa menos a construção de um objeto como uma cerca sobre um terreno, formando um quintal do que uma estratégia para a ocupação do espaço. Em Lucia, as “ocupações” podem-se dar das mais diferentes maneiras, sendo a luz e a cor sua matéria-prima essencial. Mas a esses dois elementos muitas vezes ela soma um outro, que, para o espectador de suas criações, é sempre uma experiência espantosa: a invisibilidade, como em Conjunto A, um trabalho realizado para a exposição Mão Dupla, em São Paulo. Ser visto parece ser uma exigência inescapável da arte. Um “visto” que não se restringe apenas à visão, mas a uma percepção real. A obra de arte é percebida pelo público e se realiza plenamente a partir do instante em que existe para aquele que a observa, a ouve, interage com ela. Lucia Koch, em Conjunto A, propõe um pequeno curto-circuito nessa relação. Sua obra pode ser vista, mas não percebida, e mesmo o contrário pode ocorrer. Lucia usou a parede de vidro da unidade do Sesc Pinheiros e nela instalou um conjunto de chapas de MDF (placas de fibra de madeira usadas no artesanato) com padrões desenhados por ela e depois cortados a laser. São formas que se apossam da arquitetura do lugar, se confundem com ela, tornando- se mesmo diante das outras obras que compõem a exposição um objeto tão intrusivo quanto integrado. Enquanto se desloca da mostra Mão Dupla, se apropria do edifício alterando o ambiente. Conjunto A é uma peça que, aparentemente estática, está, conceitualmente (e fisicamente, pelas alterações de luz sobre a madeira desenhada), em constante movimento.
Publicado na Revista Bravo, junho de 2008